
Por natureza, vivemos em uma eterna busca pela verdade. Queremos saber tudo, queremos saber cada vez mais, queremos ser senhores das informações.
Concordo que a maior fonte de poder é a informação. Com ela, pode-se dominar o mundo.
Mas concordo com as palavras de Nietzsche, que escreveu: "Não há fatos eternos, como não há verdades absolutas."
Portanto, partindo desta premissa, a busca insana por saber tudo e toda a verdade pode ser prejudicial.
Assim como o açúcar pode ser mortal para pessoas com diabetes, o doce saber de uma verdade pode ser extremamente prejudicial para quem não consegue suportar ou que não saiba lidar com ela.
Nestes casos - e, por favor, entendam corretamente - acho que se deixar levar por um pouco de ignorância não há de fazer mal à pessoa.
Há verdades que destroem vidas, casamentos, moral, empregos, instituições, relacionamentos, amizades. Obviamente, o que realmente causaria essa destruição seriam os atos praticados. Mas uma vez acontecido, a verdade pode contribuir para esse prejuízo.
Vou exemplificar: um jovem que fora preso por roubo e agora está regenerado... será fácil para ele arrumar emprego sendo ex-detento? Qual alma caridosa iria "arriscar" deixá-lo cuidando do caixa da loja, ou dar-lhe a chave do estabelecimento para abrir logo pela manhã? Quem disser "EU" há de levar a primeira pedra! Justifica-se então que não saibam de seu antecedente.
E por que pessoas que sofrem a falta de um membro colocam membros de plástico? Eles ficam dia após dia se questionando se aquele membro é um placebo, ou deixam a mente relaxar pensando que não lhes falta uma parte do corpo?
Mais uma vez cito Niezstche: "Há uma inocência na mentira que é o sinal da boa fé numa causa."
Não defendo a mentira. Mas também não acredito que pelo fato de a verdade ser libertadora ela deva ser praticada indiscriminadamente, sem se pesarem as consequências.
O que quero dizer é que, para mim, cheguei à conclusão de que em determinadas circunstâncias eu já sei a resposta, sei que não vou gostar dela e ainda insisto em perguntar.
Por que faço isso?
Resposta: para sofrer. Não tem outra justificativa.
Mais uma vez reafirmo: não quero defender a mentira. O que eu condeno é a busca desenfreada pela verdade mesmo que nos custe a felicidade.
Nunca gostei quando me disseram: "achava você um cara chato e arrogante. Mas depois que o conheci, vi que era legal".
Por que cargas d'água eu iria querer saber isso? Para ter noção de que minha aparência é de alguém intragável? Se a pessoa gosta agora de mim, depois de me conhecer, diga só essa verdade.
Para concluir, pois imagino que meio mundo já me entendeu erroneamente, defendo que as pessoas saibam a verdade somente na medida que possam suportar, para não estragar sua felicidade. Que a verdade seja sempre positiva e, então, libertadora. Não diga ao pintinho que aquele calor gostoso à noite é de uma lâmpada e não de sua mamãe.
E fica aquela pulguinha atrás da orelha quando leio o dramaturgo norueguês Henrik Ibsen: "Se você tira a mentira vital a um homem vulgar, tira-lhe ao mesmo tempo a felicidade."
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