É de Luís Fernando Veríssimo a frase: "A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai".
Dos três citados, considero o desejo o mais perigoso, porque ele é o único que tem vontade própria e tem um poder devastador quando se confronta com a razão.
A paixão, mata-se no ninho; o amor basta não cultivar. Mas o desejo... esse chega junto com a primeira visão, com o primeiro som, com o primeiro odor. Instala-se em fração de segundos na mente e arraiga-se de forma a não querer sair.
E o desejo tem poder próprio para conduzir os atos humanos. Faz com que tudo pareça possível, faz com que todas as atitudes pareçam plausíveis para se conseguir atender seus anseios.
O desejo é como piche. Não sai fácil, e quanto mais tentamos tirá-lo, mais ele se espalha, vai sujando tudo.
E de repente você não entende porque escolheu uma pessoa morena, se você gosta de loiras, de olhos negros, se você gosta de olhos azuis, limitada, se você ama as pessoas inteligentes. Porque foi fazer Contabilidade se odeia números. É o desejo.
E a gente começa a dar razão a Camões quando escreveu:
"Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho logo mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada".
Mas o desejo, ah, ele é traidor, disse Veríssimo...
E quando você já subiu o Everest, lutou com feras, desbravou a Amazônia e cruzou o Saara pelo seu objeto do desejo... o mesmo desejo simplesmente some.
E você se vê relacionando-se com quem não lhe atrai, trabalhando no emprego que não desejava, com o carro que não lhe agrada, morando numa casa mal localizada ou sabe-se lá o que foi seu objeto desejado.
Cuidado com ele. Não vale a pena desejar. Queime-se de paixão, enlouqueça de amor, mas não seja traído pelo desejo.
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