quarta-feira, 12 de abril de 2017

Queria você como eu queria


Estou estudando italiano. Uma maneira de ocupar-me o tempo ocioso de maneira mais prática.

Ouvindo uma música chamada Il Monde Degli Altri (música no final da postagem), na voz de Renato Russo, fiquei intrigado com alguns trechos. Por exemplo

"C'è un telefono a due passi e ho bisogno di sentirti
La tua voce può bastarmi per convincermi che esisti"
que significa:
(Há um telefone a dois passos e eu preciso te ouvir
Sua voz pode ser o bastante para me convencer que você existe)

Isso revela um pouco de um sentimento que estava perscrutando em mim. As pessoas que se apaixonam fácil demais apaixonam-se não por um ser real, mas pelo ser idealizado que eles criam como uma áurea em torno da pessoa.
Este ser idealizado seria, em tese, a pessoa com quem se poderia viver para o resto da vida, que teria todos os predicados necessários para fazer-nos felizes em todos os momentos e nas mais diversas situações.
Mas são seres irreais, fictícios, ideais, que vivem somente na utopia poética. São uma capa com que revestimos uma pessoa eleita para vestir esse manto irreal. E a pessoa, pobre pessoa, não teria condições de alcançar o ser supremo que fora idealizado. 
Mas o poeta tenta enxergar assim, tendo relevar as falhas, tenta desculpar todos os escorregões. Tenta ver o belo no ogro, o perfeito no decadente.
Um detalhe, como diz a canção acima transcrita, seria o bastante para convencer que a pessoa existe. Mas não existe, isto é fato.

"Il mondo degli altri che non son con me
Ma non me ne importa se sono con te"

(O mundo dos outros que não estão comigo
Mas não me importa se estou com você)

E este isolamento do mundo, achando que somente a pessoa ideal é que vale toda a pena é o grande perigo. Porque abrimos mão de tudo por conta de algo que não existe. Abrimos mão até de nós mesmos por causa de alguém que é irreal, um fantasma, uma ilusão.
Queria muito que fosse como eu queria, como eu sonhava, como imaginava. Queria que a Lua fosse como a lua, cândida, pura, minha. Mas não é, nunca é.
Muito cuidado. Por isso quero registrar o que Renato também cantou: "Mas é claro que o sol vai voltar amanhã mais uma vez".


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