Eu estou focado. Por isso, decidi que, durante o dia, não iria tomar café. O motivo da decisão é que em meu trabalho o café é coado e já adoçado. Eu estou cortando o açúcar e até consegui certo progresso em relação ao meu peso.
Gosto muito de café. Estou descontando minha gana na máquina de espresso que há na Academia Sport Life. Lá tomo quantos quiser, sem açúcar.
Entretanto, escrevi este preâmbulo apenas para comentar que estou rumando a tomar algumas decisões. Decisões que irão culminar em alguns sentimentos desagradáveis: ingratidão, deslealdade, solidão (como se esta já não houvesse!), abandono (pela segunda e derradeira vez). Nunca estive tão perto de decidir-me e a mudança vai ser radical.
Cada manhã, o peso desses pensamentos e ponderações acerca da tomada de decisão massacram-me vorazmente, como hienas sanguinárias que ensanguentam-me enquanto riem.
Então descobri um local para refúgio e paz. Eu vou tomar meia xícara de café na sala do Pereira. Ele, com seu jeito peculiar, sempre tem uma história, quer seja real ou mera lorota, mas que distrai. Um cavalo que precisa ser amansado, uma discussão que aconteceu com alguma pessoa do passado, um causo bem humorado e com desfecho inusitado. Quer saber? Pouco me importa a história que ele conta.
O gostoso é ir, é o caminho, é a ida. Gostosa é a sensação do pequeno caminho que atravesso para chegar até a sala do Pereira. E tomar meia xícara de café, mesmo que adoçado.
Nestes dias turbulentos, tem sido esse meu breve refúgio. É o que tenho à disposição no momento.
Li um trecho de um texto de Bárbara Quinta, que dizia:
"- Não sei onde estou. Nem sei pra onde vou. Posso me refugiar em teus braços?
- É claro. Se quiser, também pode ficar no meu coração".
Era o almejado. Contudo, este tipo de refúgio a que se refere o texto ainda não me foi completamente aberto. Ainda é uma incógnita e seu acesso, parcialmente restrito.
O que há de certo no momento, é o tomar café no Pereira.
Portanto, se alguém precisar de mim e não me encontrar, pode ser que eu esteja lá no Pereira tomando meia xícara de café. Talvez eu esteja refletindo nas palavras de Webert Gomes:
"Não se ocupe em procurar-me quando eu não estiver aqui. Preciso refugiar-me para onde não há mapa. Onde minha solidão possa ser admitida".
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