terça-feira, 13 de agosto de 2019

Fazer parte da vida não é ser a vida de alguém

Hoje enquanto comia uma ameixa estava pensando em um assunto que tem-me ocupado muito a mente e, confesso, até tirado o sossego devido sua insistência em ficar na cabeça.
Meu amigo Ricardo Brigagão já falou mil vezes para eu evitar a ideia fixa, mas devo fazer um "mea culpa" e aceitar que custou-me a entender e aceitar o que ele me aconselhou.
E ele estava certo e é disso que quero escrever hoje.
Quero contar a história de uma rapaz que teve o prazer de, inesperadamente, passar um tempo com uma pessoa que ele considera especial.
Foi, sem dúvida, um momento muito bom, uma conversa que lhe alegrou completamente o dia. Dessa vez, no entanto, como é costume desse rapaz, ele não estragou tudo mandando uma enxurrada de mensagens. Foi só um agradecimento pela companhia, mais tarde apenas um boa noite e, apesar da vontade gritante, não escreveu mais nada, por um dia inteiro, até o momento em que se veriam novamente. E foi bom!
Aí tem uma frase atribuída a Bob Marley (e nem sei se ele foi mesmo o autor dela) que diz assim: "Não viva para que sua presença seja notada, mas para que sua falta seja sentida".
Vou agora ao ponto. Existem duas maneiras de ser em um relacionamento. 
Primeiro, alguém pode ser parte da vida da pessoa. E ser parte significa que a pessoa continua vivendo. Tem amigos, tem problemas, tem momentos de introspecção, tem tristezas, tem diversões. E dentro da vida dessa pessoa, está aquele alguém, que torna-se o momento de alegria, o refrigério, o porto seguro, o motivo de um sorriso.
Este tipo de relacionamento é mais longevo, porque não sufoca, não incomoda, não enjoa. Ele é especial e está lá disponível como um presente valioso, como um sonho bom que faz a gente não ver  a hora da noite chegar para podermos sonhá-lo.
Já o segundo tipo é querer ser a vida de alguém. Note: não é fazer parte, é SER a vida de alguém. Isto implica em respirar, pensar, agir, decidir sempre e impreterivelmente para agradar a uma pessoa. Isso é escravidão, é tóxico, é mau. Enjoa, envenena, talvez mate...
Foi comendo um pêssego nesta tarde que entendi o que o Brigagão queria dizer. Que o ideal é ser parte da vida de alguém e ter esse alguém como parte  de sua vida.
Mas NUNCA ser a vida de alguém, ou ter um alguém como sendo sua própria vida. Porque essa exigência não faz bem e tem dias contados e dores certas.
Por isso é que somente Fernando Pessoa conseguiria descrever a minha vontade de ser como o vento na vida da pessoa que para mim é especial: "Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido".