terça-feira, 24 de novembro de 2020

Ingratidão

 Pensei bem. E cheguei à conclusão de que ingratidão tem muita relação com egoísmo. É sobre isso que vou escrever hoje. Tem muito a ver com a frase de Alexandre Dumas :"Há favores tão grandes que só podem ser pagos com a ingratidão".

Vamos primeiro lembrar que todos somos dotados de liberdade. Nascemos sem ter a obrigação de fazer favores a quem quer que seja. Na maioria das vezes, se o fazemos, é por vontade própria e de bom coração.

Mas há muitas pessoas que acham ser obrigação de toda a sociedade, inclusive nossa individualmente, servi-los e fazer o bem a eles de forma gratuita e benemérita. Muitos estão atolados num lamaçal imensurável e, tão logo recebem ajuda, esquecem-se de agradecer e o pior: alegando não ter pedido por ajuda, viram as costas. Há quem chegue ao extremo e inexplicável ato de odiar a quem o ajudou!

Há um ditado muito popular que diz que "um mãe cria dez filhos, mas dez filhos não cuidam de uma mãe". E qual a desculpa? A vida agitada, o mundo moderno em eternas mudanças, os compromissos pessoais que não existiam na vida das pessoas em tempos atrás? Ingratidão é a palavra. O filho que diz aos pais que não pediu para nascer, esquecendo-se de que não só desejou tanto nascer que participou de uma corrida pela vida disputando com bilhões de outros gametas a oportunidade única de desenvolver-se e tornar-se no ser ingrato que repudia e esquece os cuidados que recebeu até os dias atuais.

O ingrato não tem, em hipótese alguma, uma visão holística da situação. Ele se prende a detalhes. Olha e vitimiza-se pelo único prato vazio que se encontra rodeado de tantos outros pratos cheios. Não releva um "não" depois de ter recebido centenas de "sins". O ingrato é exatamente como escreveu o árabe Muslah-Al-Din Saadi: "O coração ingrato assemelha-se ao deserto que sorve com avidez a água do céu e não produz coisa alguma"

E ainda há uma classe muito pior de ingrato, justamente aquele que recebe o bem e prejudica quem o ajudou. A esse tipo de pessoa ingrata, meu mais profundo desprezo e repúdio. Simplesmente é perigoso viver perto de uma pessoa assim, tão delicada, meiga, bonitinha... e vil. Somente a distância serve de prevenção a este tipo de serpe.

E também ser bom. Façamos o bem sem esperar nada em troca. E mais: esperando o mal em troca. "Se seu coração é grande, nenhuma ingratidão o flecha, nenhuma indiferença o cansa", escreveu Leon Tolstói.

No meu planeta, tem uma placa bem grande em que está escrito: "obrigado".



sábado, 21 de novembro de 2020

Não se aproveite da situação

 Antes de pensar que estou querendo escrever um texto desmotivacional, deixe-me explicar o tipo de situação a qual me refiro.

Quando decidi escrever este artigo, lembrei-me dos tubarões. Os terríveis predadores dos oceanos possuem uma peculiaridade: quando um deles está ferido, é atacado pelos outros. Mesmo o mais forte, se estiver sangrando e vulnerável, passa a ser considerado presa e pode ser morto por seus iguais.

Pensando nisso, notei que todos passamos por situações inesperadas que, de um momento para outro, colocam-nos em situação de vulnerabilidade, e ficamos alheios a ações de qualquer outra pessoa, mesmo as prejudiciais.

Neste contexto, ao pensar que Confúcio escreveu que "ver o bem e não fazê-lo é covardia", ponho-me a pensar qual o tamanho da covardia em ver a oportunidade de  fazer o mal e colocar isso em prática. Difarmar uma pessoa que está passando por momentos difíceis, maltratá-la, alegrar-se com acontecimentos ruins na vida de outro, achar que tais acontecimentos foram bem feitos e merecidos ou mesmo agir para piorar a situação... tudo isso é o supra sumo da convardia, são comportamentos que embaçam sobremaneira os traços de humanidade que porventura a pessoa poderia ter.

Se alguém passa por maus momentos, ajude. Lembre-se que não criticar e não fazer nada para piorar também é de grande ajuda.

Quando um acontecimento envolve duas pessoas, nossa  tendência é tomar partido geralmente do mais fraco e açoitar moralmente a outra parte. No mínimo, perguntamos: mas o que foi que ele fez?

Isso cansa a gente, isso faz a gente diminuir a fé na humanidade. Não na humanidade como um todo, mas mostra que existem pessoas que não mereceriam ter permissão para conviver em sociedade, dado o mal que sentem prazer de praticar.

Use de empatia sempre, coloque-se no lugar do outro, no lugar de cada um dos envolvidos. Tente sentir com o coração daquela pessoa. E, se não for para ajudar, abstenha-se. Se sentir desejo de contribuir no prejuízo de alguém, proteja a todos de você.

Não prejulgue, não se envolva, não prejudique. O mundo é redondo justamente porque o zero e o cem ficam no mesmo lugar. E um dia, quem caiu se levanta e quem pisou se prostra.

E fica a dica de Gandhi: "Um covarde é incapaz de demonstrar amor. Isso é privilégio dos corajosos."

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

O que me ensinou o Rato Borrachudo.

No título, faço referência a um canal do Youtube que leva o nome da personagem Rato Borrachudo.

A proposta do canal, com mais de 12 anos de existência, era apresentar um conteúdo bem humorado sobre tecnologia e games. Público principal adolescentes e jovens (e eu!).

O Rato era interpretado por um jovem chamado Douglas sobre quem pairava uma aura de mistério, pois nunca revelava o rosto, sempre escondido sob uma máscara de rato feita de borracha. Eis o breve resumo de Rato Borrachudo.

Mas o que de bom, além de incontáveis horas de diversão e entretenimento, eu obtive do canal?

A história em que recentemente ele se viu envolvido.

O Youtube tem uma rígida (e questionável) política de direitos autorais e, certo dia, o Rato Borrachudo recebeu uma notificação de que seu canal com mais de uma década de existência e milhões de seguidores, seria apagado do Youtube por ter ferido direitos autorais. O mais absurdo: ele apenas tinha usado dez segundos de imagens feitas por um drone. O youtuber detentor dos direitos da imagem exigia um valor absurdo, na casa das dezenas de milhares de Reais para retirar a reclamação de Direitos Autorais. Caso contrário, o canal Rato Borrachudo seria definitivamente retirado do ar.

Aprendi muito com isso. Na sua vida, você pode tomar todos os cuidados, pode ter uma história irrepreensível, pode seguir todas as regras, pode se dedicar e abrir mão de muitas coisas em prol de uma escolha. Mas certo dia, de repente, inesperadamente, surge alguém e se atenta em um detalhe, uma deslizada, um erro mínimo. E por ganância ou por prazer quer destruir sua vida, sem levar em conta todo o trabalho, esforço, dedicação e empenho que você dispendeu até o momento. Sem dó. Isso é o pior de tudo. Repito: sem dó.

Sabe o que aconteceu? O Rato se reinventou. Mostrou seu rosto em uma live com milhões de pessoas assistindo ao vivo e agora tem um novo canal do Youtube chamado "Eu sou o Douglas". Ah, ele conseguiu um acordo com o oportunista que o assediou e também recuperou o Canal Rato Borrachudo. Agora a personagem interage com o criador nos vídeos.

Alguém sem piedade quer fazer-lhe mal?
Não se entregue. Resista. Reinvente-se, mostre que você se levantará tantas vezes quantas o quiserem derrubar. Como eu, e como o Douglas, seja um Rato Borrachudo e permita-se viver cada dia de cabeça erguida.

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Comigo nunca acontece.

É perfeitamente normal termos a sensação de que estamos blindados e isentos de sermos acometidos por coisas ruins. A doença pousa sempre na família dos outros, a morte ataca impiedosamente somente o vizinho. E assim é com o desemprego, as brigas, os problemas conjugais e tudo o mais.

Contudo, como não se lembrar de Vinícius que escreveu: "que não seja imortal, posto que é chama/ mas que seja infinito enquanto dure" e assim conseguir traduzir tão fielmente a efemeridade da vida e das coisas!

Veja bem: seu trabalho, seu namoro, seu casamento, sua religião, seu status, seu conhecimento... tudo um dia vai passar. Até mesmo a pessoa que você é pode, de um momento para outro, se perder na senilidade ou nos efeitos do Alzheimer, que o mergulha em uma essência que não é sua, que pode nos transformar na pessoa que nunca fomos.

Meu Deus! Que abertura triste!

Mas eu apenas tenho a intenção de fazer um alerta. Na literatura, na cinemateca, na arte em geral usualmente são dados alertas para se viver o presente (o "Carpe Diem" tão dignamente imortalizado em "Sociedade dos Poetas Mortes") e, apesar de ser salutar precaver-se e investir no futuro, nunca deveríamos fazer disso o foco principal.

Lembro-me de um dia há tempos, num período em que eu fazia dieta, e um amigo me alertou para nunca deixar de comer aquilo que eu tinho vontade. "Por que um dia você vai querer comer", disse ele, "e você pode não ter condições ou saúde para isso".

Continuei minha dieta, claro, mas depois disso nunca me privei de fazer algo que eu tivesse vontade, com a desculpa de que deixaria para fazer somente no futuro - um futuro que nem sequer temos garantias de que chegará.

Invista em si, aposte em si mesmo, cuide de si mesmo. Li na internet uma frase, cujo autor desconheço, que dizia "não relegue a outro a responsabilidade de fazer você feliz".

E eu concordo! A responsabilidade por minha felicidade é minha! As outras pessoas vêm e vão de nossa vida. Amigos, parentes, cônjuges. No fim das contas, quando o baile termina (e sempre termina), só resta comigo a minha própria pessoa.

Nossa existência não é como um jogo de videogame, que nosso personagem pode conseguir 99 coraçõezinhos vermelhos de vida e, sempre que erra, renasce. A gente tem UM coração e não há como renascer. Portanto, não cometa o pior dos erros: errar consigo mesmo.

E não pense que você está blindado. Tudo acontece com todos. Só não se esqueça de que não é pecado ser feliz.