domingo, 17 de janeiro de 2021

Odeio despedidas


 "Não olhe pra trás, odeio despedidas. Diga até mais, mesmo se for adeus".

Esta frase é da canção "Até Mais", gravada em 1999 pelos Engenheiros do Hawaii e sua letra tem muito a ver com meus sentimentos e atualmente até mesmo com minha vida e seus acontecimentos.

Minha depressão é intrínseca às despedidas. Ainda é muito viva em minha memória as despedidas de meu pai para ir trabalhar em outra cidade. Eu sabia que ele estaria de volta na outra sexta-feira, mas esta certeza de breve retorno nunca foi o suficiente para que eu não chorasse todo domingo à tarde quando o via sumindo na curva da esquina para ir à rodoviária.

Nunca gostei de dar tchau para as pessoas. Sempre olho para trás quando me despeço de alguém. Sempre olho a pessoa indo embora quando ela diz até logo. E isso sempre me machuca.

Odeio ir a velórios. E não por causa da tristeza que permeia as pessoas. Mas é o porque naquele momento estamos nos "despedindo" da pessoa que faleceu.

Odeio ir a hospitais. Também não por causa da tristeza. Mas porque visitamos o doente e depois temos que nos despedir dele. E eu queria ficar, indiferente de quem seja o paciente. Só não quero me despedir.

Eu geralmente não me despeço, eu desapareço silente. Tchau, até logo, até breve, até mais, se cuida, falou - todas estas expressões são como chibatadas emocionais em minhas costas. A palavra "adeus" então, é um tiro de misericórida. Elas me entristecem, tiram-me o sono, deixam-me cabisbaixo e pensativo.

Estou solo. Não foi uma escolha minha, só respeitei.

"Não foi assim que eu sonhei a nossa vida. 
A despedida seria até logo mais.
Mas a vida não permite ensaios..."

Aconteceu. Assim como aconteceu uma série de eventos que acabaram me transformando em persona non grata a um sem número de pessoas. E ninguém, exatamente ninguém, faz idéia de quanto dói em mim quando alguém me vira a cara ou me ignora propositalmente. Já escrevi em outros textos deste blog que a psicóloga informou-me que tenho a sensibilidade aflorada e que os sentimentos, inclusive as dores, são multiplicadas por 10. Ninguém pelo visto sabe o que isto significa. Viram a cara sem dó. Machucam-me como se desferissem punhaladas.

"Não olhe para mim como se eu fosse invisível
Como se fosse possível enxergar nessa escuridão."

A dor nos torna mais fortes. É assim nos treinos físicos. Está sendo assim na vida. Fortalece-me pensar nos finais de tarde: momento mais triste do dia, quando o sol se despede. E tudo o que se despede me fere. Estou aprendendo a dizer adeus sem sofrer com isso. E finalmente vai fazer sentido o trecho final da canção que mencionei lá no início:

"Não podia durar para sempre,
Não podia ser diferente,
Não poderia ter sido melhor


CLIQUE AQUI para ouvir "Até Mais"

sábado, 2 de janeiro de 2021

Pessoas fazem mudanças, não os números.

 Ontem, tinha 500 amigos. Hoje, 500 pessoas não me olham na cara literalmente.

Com essa verdade pessoal eu inicio meu texto de hoje, que foi inspirado por uma frase que li nas redes sociais referentes à mudança de ano que aconteceu recentemente.

Na postagem a que me refiro, havia um calendário animado, e o autor escreveu uma frase, em tom de crítica, dizendo que o ano é apenas uma métrica temporal, e que não é ele que realmente muda para trazer alívio, mas são as pessoas que têm que mudar.

Isso deu um "bum" na minha mente. Fez-me pensar na verdade por trâs do texto e também em sua ignorância velada.

Sim, concordo que o senhor da mudança é o próprio ser humano, com sua capacidade de se adaptar às variações, de se reorganizar no caos, de criar novas lógicas para entender o inexplicável. Exatamente, é o ser humano que promove a metamorfose.

Mas a mudança que o mundo exige é em massa. E se não for posto um gatilho, o que vai acontecer é um choque de pensamentos.

O que quero é observar os fatos. Todo mundo estava acreditando que 2020 foi um ano ruim. E convenhamos, ele foi. Apesar de que temos de concordar que em partes ele foi saneador, tirando da vida das pessoas muitas das coisas que elas por si só não teriam coragem de deixar para trás.

Mas o ano trouxe muitas perdas, muita preocupação, mortes impensáveis. Foi em 2020 que sumiram os toques, os abraços, os apertos de mão, a proximidade, o contato. As palavras de ordem foram isolamento, sacrifício, aceitação, submissão.

Sim, concordo e muito de que não há magia em uma mudança de número. Por isso penso que 2021 é somente um ponto de encontro, um gatilho, um local de START: "vamos começar a ser felizes a partir de agora?". E todos respondem "Siiiiimmm". 

Assim se lida com massa. Então, convenhamos que  é necessário. Sei, 2021 é um número. Quando eu tiver minha casa, ela terá um número, e todos saberão que podem me encontrar lá. Se eu não tenho um número, não me encontram.

Um ano é um número. Mas... já que, mesmo a contragosto, 2020 podou tudo de nós e nos deixou zerados (e limpos)... vamos combinar de nos reencontrar em 2021?