quarta-feira, 17 de julho de 2019

Aprenda definitivamente a fazer Poesia

Vai por mim. Se não sentir vontade de fazer Poesia, você é abençoado. Pare de ler isto e seja muito feliz (de verdade! Sempre disse que a ignorância é uma bênção).
Mas há alguns seres humanos que sentem. Sentem em profusão, com multiplicador embutido, em doses cavalares qualquer sentimento que seja. Para estes, o texto que se segue.
Para fazer Poesia, primeiramente sinta.
Sinta o que quiser. Ódio, carinho, desejo, inveja, orgulho, cansaço, tristeza, medo, apreensão, ansiedade, exultação, felicidade, desespero, ciúme, gratidão... qualquer uma das mais de 400 emoções, sensações ou estados já catalogados.
Ah, tem o amor também... 
Ao sentir, intensifique esta sensação. A ponto de perder o ar. De perder o sono. De perder a fome. De não encontrar mais o sentido da vida de tão intenso passou a ser esse sentimento.
Deixe agir por um tempo. Fermentar. Chegar a ponto de explodir (é preciso cuidado neste passo).
Quando não for mais suportável, impossível de manter sob controle, escolha seu método de Poesia: papel, tela, instrumento musical, madeira, rocha, sucata, sei lá... tudo aquilo que se permite imprimir personalidade.
Mire e... faça a Poesia!
Se não for intenso, não será Poesia. Se não vier de dentro, não é Poesia. Se não causar alívio, com toda a certeza não é Poesia.
E dane-se a opinião alheia. Poesia é libertação. Poesia não é entretenimento de plateia. Ela retrata a alma de quem a criou. Não deve ser entendida, porque não se entendem plenamente as almas. Ela serve para ser apreciada, como a oportunidade de enxergar o que está oculto e praticamente inescrutável na mente e no coração de uma pessoa.
Disse Quintana que "A poesia não se entrega a quem a define.". Verdade. Poesia é arisca, não dá para traçá-la em linha reta, desossá-la, autopsiá-la.
Criada a Poesia, estime-a. É seu eu secreto personificado. Admire-se. Veja-se. Contemple-se.
E assim se faz Poesia. Simples e perigoso.
Mas um aviso: se ao ver a Poesia de outrem você sentir o coração tremer... cuidado.
A maldição também está em você.

quarta-feira, 10 de julho de 2019

Preparado para assumir que amo.

Na manhã fria de um 10 de julho, mãos congelando, ouvindo Ed Sheeran e pensando muito em como as coisas deveriam ser diferentes, leio um texto de O Pequeno Príncipe que está repercutindo bastante nas redes sociais.
Nele, o protagonista conversa com sua rosa e diz que a ama. Em resposta, a amada diz que "também o adora", ao que ele prontamente retruca dizendo que não é a mesma coisa.
A explicação que se segue foi-me embasbacante. De um sentido e razão tão claros que envergonhei-me de nunca ter chegado a esta conclusão até então.
Adorar, diz o Príncipe, parte de nossa carência e, por isso, cria um apego a determinada pessoa, buscando nela nossas expectativas pessoais de afeto. Quando não somos correspondidos, sofremos. E o problema é que a outra pessoa, grande parte das vezes, tem anseios diferentes de nossas expectativas.
Aí vem a frase que me esbofeteou sem piedade: "Quando uma pessoa diz que já sofreu por amor, na verdade ela sofreu por adorar, não por amar."
Sim! Faz sentido!
Pois amar é não mudar, não exigir, é estar presente e cuidar altruistamente. Entender e cuidar. Não esperar nada do outro. "Só podemos amar o que conhecemos, porque amar envolve saltar para o vazio, confiar a vida e a alma. E a alma não se indeniza", disse o Pequeno Príncipe.
Então lembrei-me daquela noite em que me perguntou: "Você me conhece?" e eu respondi: "Estou tentando, com todas as minhas forças. Ajude-me a conhecer".
Porque estou querendo me preparar para assumir que amo. Como ensinam os budistas, quando se adora uma rosa, a gente a arranca para tê-la e levá-la conosco. Se amamos a rosa, nós a regamos e cultivamos.
Quero assumir que amo. Mas, para isso, só queria presentear-lhe com mais uma pérola do livro de Exupery que acredito ser importante dentro do pouco que conheço de sua vida: "É loucura odiar todas as rosas porque uma te espetou".

segunda-feira, 1 de julho de 2019

Sangrar em cima de outros.

Acabei de ler uma frase muito interessante. Dizia: "se você não se curar do que o feriu, irá sangrar em cima de pessoas que não o cortaram".
Meu Deus... parei muito tempo lendo e relendo isso e imaginando como poderia explicar algo delicado aos meus leitores.
Dias atrás pensei na morte. Pior. Pensei em facilitar as coisas para ela em relação a mim.
Últimas provas da faculdade acabaram de ser feitas, eu estava na estrada voltando para casa. Havia no caminho um pontilhão com alça de acesso para pegar a estrada que iria para minha cidade.
Ao entrar naquela curva, um pensamento. Soltar o cinto de segurança e não terminar a curva, seguir reto pelo pontilhão, precipitando-me lá para baixo.
Todos achariam que foi acidente. Não haveria bilhete de despedida, não seriam indicados motivos... era o momento comum do retorno para casa. Um simples acidente.
A ideia me apeteceu de tal forma que cheguei até o acostamento com o carro.
Seria o ponto final de tudo o que estava me fazendo mal, das ordens que insistem em me dar, da vida que não quero mais seguir, das decisões que preciso tomar mas que me amedronta tornar-me o mau da história.
Eu estava feliz na sexta- feira. Por que alguém questionaria minhas motivações? Seria acidente e ponto final, na concepção de todos.
Estranho... no momento que iria invadir totalmente o acostamento e encerrar minha jornada em menos de um minuto, lembrei-me de algo. Havia combinado com o Ricardo Brigagão de que iria correr com ele no lago municipal às cinco da tarde. Ele iria participar de uma ultra maratona e iria fazer parte de seu treino comigo. Falamos disso a semana toda.
Então decidi fazer a curva, travar novamente o cinto de segurança, e retornar para minha cidade. Tinha de cumprir o compromisso com o Ricardo, afinal, como ele iria correr sozinho às cinco?
Voltei para minha cidade. E fui diretamente para a academia ver o Ricardo e confirmar que a corrida estava de pé. Corremos naquela tarde e ele não deve ter imaginado que os dez quilômetros percorridos naquele dia tinham um valor diferente, muito maior do que simplesmente treinar.
Algo semelhante aconteceu muito, muito recentemente. Você que está lendo isso, talvez também não imagine o valor desse texto...