quarta-feira, 18 de julho de 2018

Triste Paz por toda a vida


Esta manhã, assistindo ao noticiário da TV Globo, chegou um momento em que os expectadores apareciam em vídeos amadores feitos no celular, apresentando suas expectativas e anseios para o país.
Após esta exibição, a apresentadora concluiu o quadro comentando que na grande maioria dos depoimentos, falou-se muito de “paz”.
A referida repórter argumentou que a violência é extremamente preocupante, que os brasileiros querem mesmo o fim dos conflitos, do medo, etc., etc., etc.
Lembrei-me de imediato de uma canção de Renato Russo chamada “Esperando por Mim”, que tem um trecho assim:

Hoje à tarde foi um dia bom
Saí prá caminhar com meu pai
Conversamos sobre coisas da vida
E tivemos um momento de paz”.

E esta lembrança levou-me a refletir que não se anseia somente a paz no estrito sentido da ausência de violência, de guerra, de atos de desentendimento.
Até porque, na sequência da canção que acabei de citar, Renato canta:

É de noite que tudo faz sentido
No silêncio eu não ouço meus gritos”.

O maior anseio de paz, enfim, começa no interior da pessoa. Porque a paz é ausência de conflito, e estes não existem somente em sentido físico.
Kant descrevia uma paz mediante legislação, que todos, unidos numa só direção, seguiriam rumos diplomáticos que atenderiam todos os anseios dos povos e evitaria o conflito.
Mas o ser humano vive atualmente imerso num tsunami de conflitos emocionais, familiares.
E fiquei meditando que um soldado poderia estar no meio de um enorme conflito como o é uma guerra, mas estar em paz no seu peito, ao lembrar-se da família que o ama.
Ao contrário, a pessoa pode estar na relativa paz de não estar numa guerra, habitando em uma casa espaçosa e segura, mas, ao mesmo tempo, sofrer com um conflito por ter sido abandonado por alguém que amava.
Os conflitos vêm de diversas causas: abandono, desilusão, decepção, fracasso, fraqueza, doença, bancarrota, desentendimentos, dúvidas, decisões difíceis. E tudo isto tira a paz.
E a pessoa busca a paz, busca ansiosamente, busca sem limites… e de repente, ela acredita que o conflito é inerente à vida… e tirar a vida seria a única forma de obter a paz.
Se enveredarmos pelas sendas das religiões, este ato pode ser encarado de diversas formas. Mas não é este o caso, nem fazer apologia e tirar a vida.
Por isso, quando alguém depressivo tira a própria vida, não julgue. Ele só quer ser deixado em paz. E, se enquanto a pessoa estava viva, não fizemos nada para ajudá-la a encontrar paz de uma outra maneira, então simplesmente a respeite.
Porque o silêncio dos que criticam também é uma forma de paz.

sexta-feira, 4 de maio de 2018

Sobre como tratar poetas



Vamos começar considerando que poeta não é tão somente aquele que escreve. Poeta é quem reveste de sentimentos e emoções tudo o que faz e o que vive, permeando de sensações todo o seu cotidiano.

Poetas são os melhores amigos, as melhores companhias. O carinho dos poetas são indescritíveis: possuem poesia nos dedos e, quando acarinham alguém, tocam como se tocassem a Esfinge.
Consideremos ainda que estas pessoas colocam o coração em tudo o que fazem ou que lhes acontece. E isso dói, isso machuca. Machuca tanto quanto ver o sol se pôr. Machuca igual despedida.
O poeta não precisa ver Poesia nas coisas, ele a arranca de si e deposita no que lhe cerca. Um toque de Midas que, longe de ser privilégio, é antes, um legado. Porque, repito, dói.
Então poetas precisam ser levados em conta, precisam de atenção. Qualquer gesto tem valor multiplicado. Um sorriso dá sensação de gargalhada. Um desprezo, ai, um tratamento de indiferença… têm sabor de ponto final.
Cristal não é vidro colorido. O impacto que este último suporta pode estilhaçar aquele.
Taça não é copo de requeijão. Tanto em raridade quanto em qualidade.
Então poetas se tratam assim: leva-se em conta, dá-se atenção. E se você tiver a bem-aventurança de despertar a atenção de um… não permita que ele perceba que você prefere o podre, o mano, o indelicado, o “vida loka”. Porque quando poetas gostam de alguém que não brilha, eles tiram a própria luz para incutir na pessoa. Insistir em se fazer escuro é desprezar esse sacrifício.
Por isso, se um poeta gosta de você, procure ao menos amar-se.
E nunca, nunca, o trate mal.
Porque deveria ser crime hediondo atacar alguém que não reage e não se apresenta armado.
Poetas não machucam, eles curam. E não merecem pagar caro por isso (afinal, já disse que eles sentem dor por serem assim?)
Cante para eles, sorria para eles, preocupe-se com eles. Deixe-se acarinhar, deixe-se abraçar por eles.
Perca-se com um poeta, para ambos poderem se encontrar.



terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Sobre corrupção e cortar a fila no banco

Meu Deus! Quanto se tem falado por aí em corrupção! E o pior não é falar, é que as malfadadas ações corruptas realmente estão assolando este país.
Contudo, tenho observado nas mídias, em especial no prolífero solo das redes sociais, uma crescente quantidade de palestrantes e pensadores comentando sobre o brasileiro criticar a corrupção e querer sempre dar um jeitinho, obter vantagens.
Dizem que o brasileiro critica o roubo mas não devolve o troco que veio errado, que odeia o corrupto mas corta fila em banco.
A conclusão destes pensadores, obviamente clara, é que a luta contra a corrupção deve começar em pequenos gestos.
E minha opinião sobre isso é: balela. Pura balela.
Acho inconcebível querer comparar o desvio de milhões de Reais, a aceitação de propina, a compra de favores políticos, o tráfico de influência com ações tão pequenas cometidas pelo povo - a vítima dos corruptos e corruptores. É como querer justificar o estupro dizendo que a vítima usava roupas insinuantes.
Quem imputa ao cidadão comum a culpa pela "mentalidade de corrupção" está desconsiderando as proporções devidas.
Em um país onde há atendentes suficientes e ágeis, não é preciso cortar fila.
Em um país onde a escola funciona corretamente, com valorização e respeito aos educadores, a população de bem não deixa de seguir regras.
Em um país onde há emprego para todos e remuneração digna e suficiente, não é preciso levar o troco errado para casa.
Mas se levarmos em conta que os mandatários têm sempre atendimento preferencial, estudam nas melhores escolas e são muito bem remunerados (vivem quase um outro país mesmo estando dentro do Brasil), percebemos que há nesta classe um modo diferente de ser, que não é inspirado nos pequenos deslizes do povo.
Estes detentores de benesses e de poder têm um pensamento desprovido de ética. E, como escreveu Antonio Gomes Lacerda, "A ausência da ética deixa um vácuo onde se propaga a onda da corrupção".
E para sanar isso não se deve culpar os atos dos brasileiros. Afinal, sua pouca educação é uma das armas de que se utilizam os corruptos para poderem escapar das falcatruas. Por isso um político rouba, cai e acaba voltando, reeleito.
Concluindo, deixo para reflexão duas frases que se somam e explicam onde o brasileiro de um modo geral é culpado pela corrupção:

"A corrupção não é uma invenção brasileira, mas a impunidade é uma coisa muito nossa." - Jô Soares.

- "Políticos no Brasil não são eleitos pelas pessoas que leem jornais, mas pelas quais se limpam com ele." - Conde Von Noble.


sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Sobre desmandos e desgovernos

Quando decidi entrar para a carreira de palestrante motivacional, procurei focar-me em psicologia e filosofia, relacionamentos humanos e sentimentos. Não queria entrar em conteúdos políticos, mas realmente os desmandos dos mandatários nacionais têm me feito desfrutar de sentimentos que estão me fazendo mal... preciso desabafar um pouco.
Voltaire escreveu que "o melhor governo é aquele em que há o menor número de homens inúteis".
Concordei com ele cada uma das vezes que o telejornal anunciou aumento do preço dos combustíveis. Também pensei nisso enquanto sentia raiva vendo tantas mudanças na previdência para garantir o futuro, ao mesmo tempo em que se criava um super fundo para campanhas políticas.
E quero falar da corrupção. Do aumento ínfimo do salário mínimo em detrimento dos desvios de milhões para políticos, das propinas milionárias, dos gastos exorbitantes para comprar o direito de ter a Copa e as Olimpíadas em solo nacional. Do político que tinha R$ 51 milhões em dinheiro vivo estocados em um apartamento. O Brasil está a um ponto em que chegamos ao cúmulo de pensar que seria até permissível deixar que se roube só uns R$ 20 mil/corrupto. Afinal, o impacto seria irrisório.
Junto com a raiva, há ainda uma certa tristeza, pois Drummond escreveu que "democracia é a forma de governo em que o povo imagina estar no poder". E quando vemos uma população totalmente alienada, concluímos que ele tem razão.
Um povo que ama ficar erguendo bandeiras no Facebook, brigando na rede social, imaginando que tornará o mundo um lugar melhor com o poder de um like ou de um coraçãozinho. Mas que não gosta de estudar, de aprender, de escrever certo, que não sabe evitar colocar paixão cega em tudo.
A falta de instrução é a maneira mais fácil de massificar, domesticar e controlar um povo. Controlar milhões de pessoas com programas de TV, com estilos musicais, com times de futebol, com siglas partidárias. Não há um ideal, não há uma posição racional - porque se fosse racional, poderia ser modificada com ideias lógicas.
Como animais numa gaiola invisível, assim são as pessoas que se entregam a paixões cegas e não estão dispostas a mudar de posição ou pensamento por simples egoísmo, porque seu umbigo mandou ele escolher aquilo, porque o dele é melhor. E vão seguindo serenos na linha do tempo carregando em seus pescoços a coleira imposta pelos seus senhores.
Ninguém se faz menos escravo pelo fato de ter optado pela escravidão.
E isto foi apenas um desabafo...

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

O que muda de um ano para outro?

Parece haver na mentalidade popular um certo quê de mistério envolvendo a entrada de um novo ano. Na concepção de uma grande parcela das pessoas, a passagem de ano traz consigo mudanças que vão revolucionar a vida das pessoas. "Pobre ludíbrio de cruéis enganos!", disse Casimiro de Abreu.
Depois de um período de extrema tristeza, como é o compreendido nos meses de novembro e dezembro (começando com Finados e terminando com a triste época natalina) realmente pode dar a impressão de que janeiro traz consigo renovações.
Mas é uma ideia errônea achar que as mudanças estão presas a simplesmente mudança de data. Afinal, quem garante que estamos realmente mudando de ano... se há tantos calendários e marcações temporárias além do gregoriano, atualmente adotado no Ocidente?
No calendário chinês, no ortodoxo, no judaico, as datas não coincidem, os anos mudam em outras épocas.
Mas geralmente preferimos tirar de nossas costas a responsabilidade. Preferimos computar a outros os fardos que deveriam ser assumidos por nós.
A real mudança que faz a diferença acontecer deve ser trabalhada dentro da pessoa e não confiada numa mudança de data. Mas agimos como o gordinho ou o fumante que fala "segunda-feira eu começo um regime ou deixo de fumar" e segunda-feira após segunda-feira está a desculpar-se por falhar em mudar seus hábitos.
John Kennedy disse que "a mudança é a lei da vida. E aqueles que apenas olham para o passado ou para o presente irão com certeza perder o futuro".
E ficamos num estado contemplativo e ao mesmo tempo inativo, com uma lista imensa de resoluções para o "novo ano" e achando que tudo há de acontecer e mudar sem nossa intervenção.
Assim, não importa o que o calendário nos diz, mas sim o que nós dizemos ao calendário.
E a maior resolução que devemos ter é gritar liberdade dessa dependência em pessoas e objetos para que nossa vida mude. Sejamos os senhores de nossas mudanças, atores das grandes conquistas, não importa se é segunda-feira ou se for ano novo.