sexta-feira, 31 de maio de 2019

Tomar um café no Pereira

Eu estou focado. Por isso, decidi que, durante o dia, não iria tomar café. O motivo da decisão é que em meu trabalho o café é coado e já adoçado. Eu estou cortando o açúcar e até consegui certo progresso em relação ao meu peso.
Gosto muito de café. Estou descontando minha gana na máquina de espresso que há na Academia Sport Life. Lá tomo quantos quiser, sem açúcar.
Entretanto, escrevi este preâmbulo apenas para comentar que estou rumando a tomar algumas decisões. Decisões que irão culminar em alguns sentimentos desagradáveis: ingratidão, deslealdade, solidão (como se esta já não houvesse!), abandono (pela segunda e derradeira vez). Nunca estive tão perto de decidir-me e a mudança vai ser radical.
Cada manhã, o peso desses pensamentos e ponderações acerca da tomada de decisão massacram-me vorazmente, como hienas sanguinárias que ensanguentam-me enquanto riem.
Então descobri um local para refúgio e paz. Eu vou tomar meia xícara de café na sala do Pereira. Ele, com seu jeito peculiar, sempre tem uma história, quer seja real ou mera lorota, mas que distrai. Um cavalo que precisa ser amansado, uma discussão que aconteceu com alguma pessoa do passado, um causo bem humorado e com desfecho inusitado. Quer saber? Pouco me importa a história que ele conta.
O gostoso é ir, é o caminho, é a ida. Gostosa é a sensação do pequeno caminho que atravesso para chegar até a sala do Pereira. E tomar meia xícara de café, mesmo que adoçado.
Nestes dias turbulentos, tem sido esse meu breve refúgio. É o que tenho à disposição no momento.
Li um trecho de um texto de Bárbara Quinta, que dizia:
"- Não sei onde estou. Nem sei pra onde vou. Posso me refugiar em teus braços?
- É claro. Se quiser, também pode ficar no meu coração".
Era o almejado. Contudo, este tipo de refúgio a que se refere o texto ainda não me foi completamente aberto. Ainda é uma incógnita e seu acesso, parcialmente restrito.
O que há de certo no momento, é o tomar café no Pereira.
Portanto, se alguém precisar de mim e não me encontrar, pode ser que eu esteja lá no Pereira tomando meia xícara de café. Talvez eu esteja refletindo nas palavras de Webert Gomes:
"Não se ocupe em procurar-me quando eu não estiver aqui. Preciso refugiar-me para onde não há mapa. Onde minha solidão possa ser admitida".

quinta-feira, 30 de maio de 2019

Se cuida

Todo ano, em toda data comemorativa, sempre tem alguém que fala mais ou menos assim: "dia das mães é todo dia do ano", "dia das crianças é todo dia do ano", "dia da mulher é todo dia do ano"... blá, blá, blá...
Deixemos de lado o fato de que toda vez falam a mesma coisa, o ponto deste texto é outro. Sequer envolve datas comemorativas. Envolve ações e sentimentos.
Gostamos de uma pessoa.
Existe, sim, o momento em que se faz uma grande surpresa, uma grande declaração, um ato grandioso para deixar bem claro o quanto a pessoa é especial para nós e quanto a amamos. Fazemos uma declaração, estampamos em jornal, outdoor, luzes, fogos, barulho, espetáculo!
Mas quando a gente sente, e sente de verdade, os outros dias também devem ser contados. O ano inteiro é propício para aquele sentimento.
E para estes dias há os pequenos gestos, alguns detalhes que lembram a pessoa constantemente que ela é gostada, amada.
Uma mensagem de boa noite, um olhar procurando por ela na multidão, uma breve pausa para um café a dois, um bilhete, uma flor, um vídeo que a gente mostra dizendo que nos fez lembrar dela. Tudo vale.
Mas, particularmente, eu adoro usar a expressão "se cuida". Só digo isso para quem é realmente especial.
É uma expressão interessante e até mesmo triste. Explico.
Digo interessante porque pedimos que a pessoa cuide de si, quando na verdade, o nosso desejo é de nós próprios cuidarmos da pessoa. É paradoxo, mas é quase um pedido de ajuda para que a própria pessoa nos ajude a cuidar dela.
Lembra-me uma frase de um autor desconhecido que diz "Dentre todas as formas que eu conheço pra dizer “eu te amo”, a minha preferida é cuidar de você".
Só que é uma expressão triste, porque remete a uma despedida. Odeio despedidas, odeio mesmo. Ainda que seja por um dia mas, a quem me apeguei, não quero distante.
E cuidar lembra fazer parar de doer, acho lindo isso. Fazer sanar as aflições, os males, as ansiedades. Cuidar é a forma mais sublime de amar uma pessoa. Por isso é que a bem poucos digo "se cuida".
Porque quem ama, cuida. E eu amo intensamente, mas poucos.

quarta-feira, 29 de maio de 2019

Um pequeno trecho de meu novo romance

Compartilho agora um breve trecho de um romance que estou criando:

Depois de todo o brilho, da luz, das surpresas que foram feitas naquela noite, ele resolveu acompanhá-la até sua casa.
- Que show! Foi você mesmo que fez este desenho? - perguntou ela, referindo-se ao presente que acabou de ganhar dele, um desenho de seu rosto.
- Sim. Desculpe se não ficou muito bom, faz uns quinze anos que não desenho. - disse o carinha, meio sem jeito.
- Gostei muito! Gostei de tudo, do desenho, do bolo, dos bombons, da surpresa. Nunca ganhei um bolo. - emendou ela.
Neste momento ele pensou que fez algo certo: fez por ela algo que nunca fizeram. Ponto para ele, que não queria nem por um momento parecer-se com a maioria dos caras.
- Mas queria esclarecer uma coisa - disse ele, cortando o silêncio do momento - tudo o que fiz para você hoje, as surpresas, os presentes e tudo o mais não representam nada, absolutamente nada, se comparados com aquilo que você me presenteou. Faz quinze anos que não desenho, faz dois anos que parei de escrever poemas e há um ano não escrevo outros textos. E você, mesmo sem saber, me motivou a fazer tudo isso novamente.
O vento soprou suave entre eles. Ele olhou para o céu. O local era muito escuro e ele ficou encantado com tantas estrelas que estava conseguindo ver. Mais encantado ainda com a estrela em sua frente.
- Já lhe disse outro dia - continuou ele - que eu me odeio. Sem explicação, sem motivo, simplesmente desde a juventude tenho-me como inimigo. Mas, inexplicavelmente, em todas as vezes que tomo café com você, eu sinto vontade de viver para sempre. E os pequenos detalhes que percebo de você em relação a mim me fazem querer gostar de mim. Sou eu que devo agradecer por me devolver tudo isso - concluiu.
Quando se abraçaram, mais uma vez, ele sabia que era chegada a hora de partir, retornar para seu mundo sem inspiração e de ódio-próprio. Ele beijou seu rosto, apertou sua mão e disse até breve.
E ele se foi... desejando ter ficado. Tanto na presença, quanto no pensamento dela. Onde até agora ele não tem certeza se está.

Esperando por mim

O título deste meu texto é semelhante à música cantada por Renato Russo.
Ouvi ela hoje e chorei. A beleza da canção pode ser relativa, eu acho linda, mas há quem não goste. O que me machucou mesmo foi a letra.
"Acho que você não percebeu, meu sorriso era sincero. Sou tão cínico às vezes. O tempo todo estou tentando me defender". E a gente busca ter vislumbres de paz ao lado de quem gostaríamos que fosse nosso ponto de segurança. Como é difícil estar vivendo em descompasso com sua natureza. Que complicado é viver como se estivesse vivo, estando-se já morto.
"Hoje à tarde foi um dia bom. Saí pra caminhar com meu pai. Conversamos sobre coisas da vida e tivemos um momento de paz". Queria ter a companhia de meu pai, para poder conversar sobre as coisas da vida. Na verdade, queria ir com ele no lago e ter talvez um momento de paz. Não aproveitei meu pai quando o tinha. Quando a gente é adolescente, é jovem, acha que nosso pai é antiquado e não aproveita. Hoje vejo que meu pai talvez fosse o único igual a mim. Percebo que dele herdei meus dons de escrever, desenhar, tocar violão. 
Não, meu pai não escrevia poemas ou crônicas, ele não desenhava e também não tocava nenhum instrumento. Mas a poesia que está incutida em meu ser não veio de outro lugar senão dele. As formas de expressão não são o mais importante, se a Poesia não existir. E essa veio de meu pai. 
"É de noite que tudo faz sentido, no silêncio não ouço meus gritos". E é dentro de mim, onde o que há é uma eterna noite, que encontro meus sentidos, minhas explicações. Quando estou quieto (e fico muito tempo quieto) é que os pensamentos gritantes se aquietam e eu consigo raciocinar. Consigo classificar meus raciocínios e sentimentos. Consigo, dia após dia, vez após vez, chegar à conclusão de que aqui (neste mundo) não sou feliz. Não importa o prisma, não importa as cores com que pinto, não importa o ângulo ou lado por que olho. Definitivamente, a conclusão é: não é isso.
"E o que disserem meu pai sempre esteve esperando por mim". Eu... ahn... então... Não consigo comentar isso... desculpem...
E me desculpem o desabafo.
Desabafo de quem está se perdendo e percebe que isso não faz a menor diferença. Nem para mim, nem para ninguém. "Estamos vivendo e o que disserem... os nossos dias serão para sempre".


*todas as citações são da música "Esperando Por Mim" - Legião Urbana.

terça-feira, 28 de maio de 2019

Quem me enxerga, sabe.

Como é bom poder alegrar outras pessoas, fazer o dia delas um tanto mais feliz!
Alguns têm esse dom. Outros se esforçam.
Mas manter um astral positivo, dar um "up" na motivação diária das pessoas faz com que cheguemos a outro nível de existência.
Que valor inestimável é ver brotar um sorriso no rosto de uma pessoa por conta de uma palavra bem colocada que dissemos, um elogio sincero que proferimos, uma boa ação que realizamos.
Faço um programa de humor (Programa Café com Risada/Café Zé Mauro - ao ar toda quinta a partir das 11h na 106,3 FM Interativa ou pela live no Facebook) e receber o feedback positivo de muitas pessoas que o assistem, que participam ao vivo, que interagem e até que esperam o momento do programa ir ao ar é impagável!
Atender as pessoas bem e com um sorriso, preocupar-se em resolver o problema delas, demonstrar empatia, solidariedade, carinho, atenção. Como é bom ser um raio de luz desferido em meio a um mundo hostil, escuro e egoísta.
Como é bom sentir-se útil e procurado pelas pessoas que encontram em nós um momento de alento e de consolo para uma vida atribulada.
Ser porto seguro, ombro amigo, conselheiro, orientador, animador, parceiro.
Como é bom!
Mas quem me enxerga, sabe.
Acabei de ler uma frase publicada por Arnaldo Álvaro Padovani que diz "Ainda que haja noite no coração, vale a pena sorrir para que haja estrelas na escuridão". É o que tento.
Mas sei das noites escuras qual piche, da imersão em um poço de alcatrão que tenta toda madrugada puxar para dentro de si e sufocar. Do esforço descomunal e sobre-humano que é necessário dispender para sair desse poço. Do trabalho de limpeza e polimento que é preciso fazer nos pensamentos todas as manhãs, a caminho do serviço, para que o brilho esteja impecável.
Tomo um chá e penso: "quem me enxerga, sabe".
Mas não sabem, porque não enxergam.
Não sabem enxergar, não conseguem, não querem.
Quem enxerga vê quando o sorriso não é completamente feliz.
Mas sigo levando comigo o pensamento de Machado de Assis: "Há pessoas que choram por saber que as rosas têm espinho. Há outras que sorriem por saber que os espinhos têm rosas!"
Quem me enxerga...

segunda-feira, 27 de maio de 2019

O impasse da decisão

Decisões.
Por que será que são tão difíceis de serem tomadas?
Bom, tem umas fáceis. Resolvi hoje de manhã ir trabalhar com uma roupa e na hora do almoço eu coloquei outra. Por nada, só porque quis. Decidido.
Mas há decisões que implicam em mudanças radicais. E eu não tenho medo de mudanças. Não temo o desconhecido.
Tenho medo de apenas uma coisa: certas decisões trazem consigo a sensação de sermos ingratos, quiçá desleais. Isso é a única coisa que me amedronta.
Napoleão Bonaparte comentou que "Nada é mais difícil e, portanto, tão precioso, do que ser capaz de decidir". E realmente certas decisões são difíceis de serem levadas a cumprimento.
Fazer outro sofrer por sua causa, porque você decidiu algo melhor para si. Ah, como seria bom se eu tivesse o egoísmo necessário para encarar isso como lei da natureza! Como queria que fosse tão fácil quanto decidir que hoje iria tomar chá de hortelã.
O autor do best-seller "Diário de uma Paixão", Nicolas Sparks, escreveu justamente o que tenho dificuldade de realizar: "Nesta vida é inevitável magoarmos pessoas inocentes por conta das decisões que tomamos". E eu, como poeta, preferiria milhões de vezes ser o inocente magoado do que o contrário.
Mas não facilitam para mim. Não tomam a decisão que eu precisava que fosse tomada. E eu quero decidir. Preciso respirar. Preciso sorrir. Preciso ser eu. Arrancar esse aperto no peito toda noite, dirimir a angústia que me acomete aos entardeceres.
Mas confesso ser covarde. A mesma covardia que me mantém vivo, corrobora com os motivos que me fazem desejar o oposto.
Por isso, que neste pouco tempo que resta a decidir, vou confiar nas palavras de Caio Fernando Abreu: "Não valorizou, perdeu, só espero estar sempre tomando as decisões corretas, pois se for meu, volta, se não for pra ser, Deus sabe o que faz".
E Deus, caro leitor amigo, não é indeciso.

Por que gostar é tão complicado?

Para um assunto tão complicado, vou apelar para a sabedoria de um desenho de Walt Disney. Talvez para dar um ar paradoxal ao meu texto. Ou só para me entreter na escrita mesmo.
Vamos ao fato.
Um rapaz falou para uma pessoa: "eu gosto muito de você".
A resposta, meio previsível no momento, foi com uma outra pergunta: "Mas que tipo de gostar?"
Gostar é gostar. Talvez o que diferencie alguma coisa é o tipo de retorno que se espera quando se gosta de alguém.
Mas... e se não se espera nada em troca? Que tipo de gostar é esse?
Tudo bem... não quero enxergar que a pessoa em questão queria saber se era um gostar de amigo ou um gostar romântico.
Agora entra o desenho animado. Vou mencionar duas frases do desenho "A Pequena Sereia", de Walt Disney.
A primeira frase é "Gostar de alguém faz você pensar que qualquer oi ou qualquer tchau pode ter algum significado especial". E tudo o que acontece na vida da gente no relacionamento interpessoal é repleto de sinais não verbais. Realmente um oi dito ou deixado de dizer pode ter muitos significados. Existem ainda a entonação, circunstância, quantidade, relatividade... tudo pode significar algo. Ou não, rsrs! Mas quando se gosta esperando reciprocidade, inconscientemente buscam-se sinais de que haja correspondência.
Aí penso sobre outra frase dita na "Pequena Sereia": "Até a forma de te abraçar vai ser diferente quando alguém estiver gostando de você". E isso lembra que o abraço pode existir, mesmo que não haja necessariamente um gostar. Porque abraço é em si uma troca, mas não uma troca de sentimentos. Os sentimentos podem vir embutidos, na força, no momento, na intensidade, na imprevisibilidade do abraço.
Só sei que não tem como dizer que tipo de gostar é. As pessoas gostam. E gostar faz parte e é somente parte da história. Como uma pupa em evolução. Gostar é um sentimento evoluindo, o que vai se tornar??? Ixi, complicado, hein...

quinta-feira, 23 de maio de 2019

Retornando a escre(vi)ver!

"O que há de errado comigo? Não consigo encontrar abrigo" - assim é parte da letra da música "A Fonte", da banda Legião Urbana.
Hoje estou tendo uma crise medonha de ansiedade e, apesar de estar sofrendo com um aperto no peito, que desce para o estômago e que dá aquela sensação de que nada está certo... posso dizer que estou feliz: EU VOLTEI A ESCREVER!!!
Sim, é motivo de alegria, porque faz mais de um ano que parei de escrever, inclusive parei de escrever meu livro (o que acho algo quase imperdoável).
A faculdade, as mudanças no emprego, as voltas que o mundo dá... tudo me fizeram deixar de escrever. Não por desânimo, simplesmente parei.
A vontade de escrever sempre esteve em mim, não há como livrar-me dela. Mas eu simplesmente não escrevia...
E hoje, quando me encontro uma pilha de nervos de ansiedade, uma nitroglicerina humana, justamente para não explodir eu resolvi largar um pouco os afazeres e escrever este artigo.
Assim, peço desculpas se saí um pouco do tom neste texto, afinal, é o retorno e eu precisava explicar um pouco o porquê de minha ausência.
Não há nada de errado comigo. Agora.
Estou começando a ter uma nova visão de mundo. Graças a Deus! Estou começando a ver que as amarras não estavam apenas me segurando, elas começaram a me enforcar, porque por mais inerte que fiquemos, nós nunca estamos parados e, mesmo inconscientemente, buscamos o que queremos.
Tenho tanto assunto para compartilhar, tantas ideias para desenvolver. Tenho que contar muito do que aconteceu e que percebi acontecer neste meu tempo de ausência.
As perdas irreparáveis, as conquistas e o ressurgimento de sentimentos congelados. Minhas "aulas de italiano", e recentemente minha retomada de práticas que por anos eu havia abandonado (eu voltei a desenhar! Uau!). Ah, c'è anche una nuova persona!
Ufa! Estou mais tranquilo. Escrevi e isso é um bálsamo sem tamanho para aliviar a dor da ansiedade.
Em tempo: obrigado meu amigo Ricardo Brigagão por ser o que tenho no mundo (É noix).