sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Parábola do rio.

 Havia um rio. Limpíssimo. Puro e cristalino, refrescante e atraente, trazendo a pureza intocada desde sua nascente.

Às margens deste rio, no princípio, havia uma placa em que se dizia: "se está com sede, beba à vontade".

E as pessoas que encontravam o rio bebiam e saciavam-se. E voltavam.

Mas, um dia, e ninguém sabe qual dia foi ao certo, alguém observou as pessoas tomando da água do rio e imaginou que se usasse um copo, seria mais fácil. E começou a ser seguido por outros. E surgiram os "copistas".

Mas houve uma discussão entre os copistas e surgiram outros que defendiam que os copos deveriam ter um formato diferente, mais arredondado, e não poderia ser de plástico, mas de vidro, porque a água era pura demais para ser tomada em copo de plástico ou nas mãos (como era feito no começo).

E de discussão em discussão, surgiram vários defensores de várias ideias. Uns diziam que era preciso fazer uma dieta antes de tomar da água daquele rio, outros diziam que somente a água que eles pegavam no rio mataria a sede, outros defendiam que somente os escolhidos podiam tomar da água.

Teve quem cavou um poço do lado do rio para tomar a nova água, acreditando que o rio era falso. E sempre com seguidores fieis acreditando piamente em suas palavras.

Surgiram os "propagadores das águas puras", que distribuíam copos de pessoa em pessoa e afirmavam categoricamente que somente eles possuíam a água que matava a sede. E se a pessoa não se mostrasse digna, eles tomavam o copo e deixavam-na com sede.

Havia quem cobrasse pela água, pelo copo, pela roupa certa para beber. Havia quem criticava os outros bebedores de água, havia quem defendesse com unhas e dentes sua concepção de beber água. Havia discussões acaloradas e filosóficas sobre o conceito fluviológico do beber da água. Surgiram cursos de fluviologia para estudar o rio. Muitos começaram a traduzir a placa que estava na margem do rio para, assim, confirmar que somente seu conceito era o correto.

Todos tentaram inclusive represar o rio, para que somente eles próprios e seus seguidores pudessem beber.

Também havia quem negasse que o rio existisse. Mas que tomava de sua água escondido.

Contudo, quem olhasse de longe, isento dessa discussão toda, via o rio chegando limpo, passando pelo acampamento dos bebedores e saindo sujo do outro lado. Porque toda aquela briga formava muita lama nas margens do rio, sujando-o e ele só voltaria a ficar cristalino mais adiante, longe daquele povo.

Assim foi com o rio. Assim são as crenças humanas.

A água, entretanto, segue pura, gratuita e eficaz em sua essência. Sirva-se.


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