terça-feira, 18 de maio de 2021

Cada um em seu asteroide.


"Sou um animal sentimental me apego facilmente ao que desperta o meu desejo"
, foi o que cantou Renato Russo.

No incessante desejo de encontrar alguém igual a mim, que eu costumo chamar de "a busca por alguém que seja de meu planeta", acabei por encontrar alguém que eu supostamente imaginei ser um reflexo. Mas, sejamos francos, no fundo, no fundo, todos somos solitários, vivendo como se não o fôssemos, entre outras pessoas também solitárias, todos tentando provar que estamos acompanhados. E, quer saber? Talvez não haja um planeta meu, de onde eu tenha vindo. Somos únicos, não é mesmo? Essa imparidade é fascinante e, ao mesmo tempo, triste.

Somos seres em eterna mudança, e nunca alguém será eternamente o amor da vida de outrem. Porque um dia acordamos mudados e as diferenças podem ser fatores incontestáveis para um afastamento. Pode demorar, pode ser rápido, pode ser instantâneo. A pessoa que suspira apaixonada, de um dia para outro descobre que Química só é uma ciência exata nas universidades. Eu só continuo achando que deveria ser algo de duas mãos, dois sentidos. Realmente, não é uma ciência exata e nem justa. Sequer faz sentido.

Verdade é que pessoas especiais fazem a gente enxergar fisicamente o que fora escrito na Literatura, personificam as palavras e pensamentos dos poetas de outrora. Os poemas, histórias, pensamentos passam a fazer sentido em determinadas pessoas. "Uma menina me ensinou quase tudo o que eu sei. Era quase escravidão, mas ela me tratava como um rei. Ela fazia muitos planos, eu só queria estar ali, sempre ao lado dela. Eu não tinha aonde ir", mais uma vez Renato cantou.

E descobri que não era sem motivo que Saint-Exupéry colocou o Pequeno Príncipe para morar em um minúsculo asteroide. Era ele, três vulcões, alguns baobás e sua rosa. Ah, algumas larvas que ele matava mas deixava sempre duas ou três, para virarem borboletas. Não havia outro dele em seu planeta.

E justamente quando vi aquele sorriso que era tão fácil de brotar no rosto se tornar em uma expressão sem expressão (tentem entender isso, pois foi exatamente assim que notei acontecendo) vi que vivemos em asteroides. Vi que somos nós com nossas rosas e que rosas não são pessoas (são a imagem que criamos das pessoas) e que nada em nosso planeta é igual a nós e que não há, no universo, alguém semelhante a nós.

E no fim das contas, não é a inteligência (que acho fascinante, meu Deus, como amo pessoas inteligentes!), não é a beleza, não é a história, não são as atitudes. São, sim, as emoções que vêm cada uma de um planetinha diferente.

Ainda sou relutante em aceitar que não haja outros de mim. Assumo minha burrice na teimosia de procurar, mesmo sabendo que não há muita esperança. Como o aviador de O Pequeno Príncipe, que levava consigo o desenho de infância de uma cobra engolindo um elefante. Todos achavam que o desenho era um chapéu. Ele guardava o desenho e interagia bem com todos, mas decepcionado de não ter tido mais uma vez a oportunidade de encontrar alguém com quem pudesse ser ele mesmo. 

Compreendi isso. Mais uma vez, a "pessoa especial" só enxergou um chapéu.

Eram sorrisos, eram expressões, palavras, canções, pensamentos, desejos, intenções, planos. E era Renato cantando: "e depois do começo, o que vier vai começar a ser o fim".

Um comentário:

  1. Não imaginei que fosse ser tão dolorida a experiência. Mas li em algum lugar que "dói quando escolhemos a cura em vez da anestesia".

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