sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Sobre tirar a vida

Medos, sustos, cismas... o nosso corpo tem um sistema de autodefesa que trabalha inconscientemente para manter nossa vida. Todos estes mecanismos de alguma forma nos ajudam a permanecer vivos e comprovam que somos feitos para ficar vivos e que a morte, apesar de parecer natural, não condiz com nossos ideais.
Mas há pessoas que colocam um ponto final inesperado mas premeditado em suas próprias vidas.
E justamente nesse momento trágico e doloroso, surgem as religiões colocando um peso a mais na situação, pois muitas acreditam que o autor da própria morte não tem perdão.
Penso que a religião nesse sentido peca. A palavra religião vem do latim "religare" e assume para si a função de reatar os laços do homem com Deus. Ao pregar condenação a alguém que tirou a própria vida, o que ocorre na verdade é um desserviço da religião, promovendo um desligamento das relações interpessoais e divinas.
Ninguém tira a vida por capricho. Sequer chamaria de covarde alguém que faz isso.
A depressão é uma doença extremamente perigosa e traz consigo cargas muito onerosas. Uns se auto-mutilam; outros definham em um quarto escuro e ainda há os que tiram a vida.
Isso é tragédia, não é pecado. Até porque teologicamente encontramos na Bíblia que "o salário pago pelo pecado é a morte". Uma vez morta, a pessoa deixa de ser pecadora porque pagou o salário exigido.
Eu recebi há pouco tempo uma punição religiosa a meu ver severa e num acesso de depressão pedi por três dias que Deus me tirasse a vida, pois não tinha coragem de fazer isso com as próprias mãos. Deus, obviamente, não ouviu meus pedidos.
Ainda bem que enveredei para o lado das palestras e comecei a me motivar, saindo desse lodo que me arremessaram e que me deixei arremessar. Retomei a escrita de meu livro e agora estou bem.
Para concluir, deixo essa dica aos que de antemão condenam os suicidas e retiram-lhes a garantia de salvação: não se preocupem, eles estarão bem, porque Deus cuida (o universo cuida) de quem está necessitando de atenção.
Preocupe-se em não pré-julgar. E preocupe-se se sua fé está deixando de religar você com a Força Maior. E pense na frase do filósofo Francesco Orestano, que disse: "O suicídio demonstra que na vida existem males maiores do que a morte."


8 comentários:

  1. Meu Caro PC,

    Quanta coragem, mesmo que ao contrário, este ato demanda. Enquanto a depressão ainda for vista por olhares de fraqueza, esses fatos aumentarão exponencialmente (como já ocorre).

    Parabéns pelo texto, constantemente acompanho.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Concordo, meu amigo. Penso comigo às vezes que a covardia me protege em certos momentos. Obrigado por acompanhar o blog!

      Excluir
  2. Realmente, há muita coisa entre o céu é a terra, mas uma só certeza... Deus.

    ResponderExcluir
  3. Lindo texto. Deus perdoa e como não perdoar um ato de desespero, talvez de loucura.

    ResponderExcluir
  4. Perfeito....
    Só quem teve ou tem depressão sabe como é, eu tive e optei pelo "definhar em um quarto fechado" até enxergar que aos poucos estava me matando a aos que me cercavam tb.
    O ser humano é uma máquina de pré julgar sem antes olhar pra si e analisar sua própria existência.
    Texto forte e triste ao mesmo tempo, dentro do ocorrido dessa semana.
    Parabéns PC seus textos são excelentes

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Muito obrigado, Aline, por acompanhar meus textos! Realmente a luta contra a deprê é muito difícil e a gente precisa se envolver.

      Excluir