quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Vai querer amar, mesmo?

Odeio senso comum. Lugar comum definitivamente não é meu lugar.
A gente estuda comportamento humano e fica surpreso com os comportamentos de massa que são impostos pela sociedade e aceitos passivamente pelas pessoas como ovelhinhas.
Nós, humanos, temos o péssimo hábito de estar diante do maior e mais surtido banquete e falar: "vou pegar apenas uma torradinha". Pior é depois disso voltarmos para casa com fome.
Como poeta, permitam-me falar de amor. Ele é o mais nobre sentimento e isso é indiscutível. Teologicamente, as Escrituras dizem que Deus É amor (não que tem amor). Isso mostra que o amor é a própria essência divina, personificada no Criador.
Mas... meu amigo leitor... pensa comigo...
Como dar uma Ferrari ou uma MacLaren nas mãos de alguém que acabou de passar no exame para tirar carteira de habilitação? Como humanos imperfeitos podem amar sem se machucar se o próprio amor exige qualidades que não são inatas e encontradas em poucos: abnegação, desprendimento, resiliência.
Sem querer ficar catequizando, mas a título de exemplo, Deus foi amar o ser humano e teve que permitir a morte do próprio filho por isso.
E as pessoas querem amar, mesmo sendo ciumentas, possessivas, ansiosas, egoístas.
Vamos começar pelo fato de que se "amamos" uma pessoa queremos ela conosco. Isso não é amor, é posse. É egoísmo. Quem seria capaz de deixar livre para que a pessoa amada seja feliz, mesmo que seja com outra pessoa?
Eu era contrário a paixões. Mas estou mudando meus conceitos.
Quando estudei Gonçalves Dias, em seu poema "Se se morre de amor", não entendi o que o mestre queria dizer. Agora ficou mais claro a diferença entre paixão e amor... e o que mata, na concepção dele, é o amor. Primeiro, ele escreveu:

"Se se morre de amor! – Não, não se morre,
Quando é fascinação que nos surpreende"

Então ele pondera sobre o amor:

"Conhecer o prazer e a desventura
No mesmo tempo, e ser no mesmo ponto
O ditoso, o misérrimo dos entes;
Isso é amor, e desse amor se morre!"

Romeu e Julieta que o digam.
Não estou fazendo apologia anti-amor. Os ignorantes podem parar de pensar assim. Estou considerando apenas o fato de que amor é muito sublime para passear de boca em boca, de coração em coração, sem a devida disposição para amar.
Em outra postagem, escrevi que temos 356 sentimentos catalogados.
Mas o ser humano é engraçado: um banquete de sentimentos, e escolhemos ficar com o mais difícil...



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