quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Entre um Pokémon e um selinho

Eu entrei no vestiário da Sport Life Academia e meu sobrinho Kaique, de 10 anos, um futuro poeta, se Deus quiser, estava conversando com seus amigos da natação.
Enquanto eu tomava um banho, escutava a conversa daqueles jovenzinhos, tão entretidos com o assunto que nem deram bola para minha presença.
"Ano passado, eu namorei seis meninas", contava um deles, "mas este ano não consegui nenhuma. Sabe o que acontece? As meninas estão mudadas. Agora elas só querem saber de meninos com dinheiro", concluiu.
"Eu hoje comecei a namorar", disse então meu sobrinho. "Eu pedi ela em namoro e ela disse que ia pensar. Então, durante a aula, nós dois afundamos na piscina e ela acenou com a cabeça dizendo que sim", relatou, todo apaixonado. E ainda concluiu: "eu estou apaixonado de muito amor".
Claro que eu e outros adultos ríamos da conversa inusitada dos "aspirantes a gente grande".
Mas fiquei meditando durante a noite nesta conversa de garotos e não consegui dormir enquanto não concluí o que estava explícito naquele papo pueril: o mundo exige que cresçamos rápido demais.
As crianças agora entram nas conversas de adultos, prestam atenção nas ideias dos pais, acham-se semelhantes aos maiores. Entre o pião, a figurinha do Pokémon para jogar bafo, a pipa... tem a menina que eu amo, as meninas que querem os meninos com dinheiro.
Nessa mescla de informações que invade o mundo das crianças, elas crescem formando uma nova sociedade... equilibrada entre razão e emoção.
Se essas crianças não forem ensinadas a ser poetas, não sei como sobreviverão a tão drástica mudança de conceitos que a sociedade imprime.
Entre a captura de um monstrinho do pokémon go e um selinho dado na menina ecoam as palavras de Quintana:
"Quando guri, eu tinha de me calar à mesa: só as pessoas grandes falavam. Agora, depois de adulto, tenho de ficar calado para as crianças falarem".




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